Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

“Gabiruzada”

Os petistas - não sei se isso acontece também em outras cidades – encontraram uma maneira bem apimentada para se identificarem nos bastidores. Costumam chamar alguns companheiros de gabiru. “Ô seu gabiru!”, dizem pelos corredores da prefeitura para quem quiser ouvir, onde a “gabiruzada” tomou de conta, botando para correr os velhos mamíferos roedores, aqueles com molares cuspidados.
Há, entre outros, o tipo “gabiru pidão”, “gabiru mexilão”, o “xiitão”, o “chaatão”, o “barnabezão”, o “eruditão” e é lógico, o “meu irimão”. Eles fazem balbúrbia por conta dessa brincadeira. Segundo o Aurélio, gabiru é: “indivíduo desajeitado”, “rato-preto”, “rato-pardo”, “rato-de-paiol”.
Poucos pegaram o dicionário para conferir o significado desse substantivo e continuam, penso que sem maldade, invocando os parceiros de partido pelo termo nada convencional.
Esse proselitismo se espalhou, em nível local, a partir de uma reportagem publicada na Folha de São Paulo, no início da década de 80, mostrando o “Homem Gabiru”, narrando a situação daqueles cidadãos subnutridos que viviam e ainda vivem do lixão do Nordeste. Além da estatura pequena, sofrem com o baixo Q.I. - no sentido orgânico e fisiológico, é evidente, por conta da própria condição subumana.
Os gabirus daqui são fortes, viçosos, esbanjam saúde, gostam de um bom queijo.
Seria uma deselegância compará-los a ratos comuns, mas se existe os rato de biblioteca e o rato de sacristia, aquele pesquisador de arquivos e este vivendo como carola nas igrejas e sacristias, além do rato de festas e o rato de teatro, aqui eles estão por cima e não se importam se o termo é pejorativo ou não. A expressão se tornou trivial e generalizada. Nunca existiram tantos. Até mesmo os de outras tribos abominadas no passado se dizem hoje reciclados e buscam boquinha no mesmo queijo – o gorgonzola só é servido aos gabirus que usam gravata borboleta.
É a política em constante mutação de cores e estilos, progredindo nunca se sabe ao certo se para melhor ou para pior. No reino de Mickey Mouse, o norte-americano Super Mouse e o mexicano Legeirinho (arriba! arribaaa!, lembra-se?) se encarregam de fazer justiça e colocar os mal feitores na cadeia, isso no imaginário das crianças e de quem assiste esses raros e divertidos desenhos. A arte imita a vida e muitas vezes ocorre o contrário.
Os gabirus douradenses, creio, estão mais para Topo Gigio, aquele bonequinho doce, sensível, meio tímido, inseguro mas de boa alma criado pela italiana Maria Perego na década de 70. No Brasil chegou a contracenar com o humorista Agildo Ribeiro, na tevê. Melhor, quem sabe, um gabiru amigo do que uma ratazana venenosa. Ano que vem tem eleição de novo. Os gabirus acumulam energias: “arriba! arribaaa!....” se não quiserem sentir saudades dos queijos gostosos...